quinta-feira, 11 de março de 2010

Primeiro uso de células-tronco de Sangue de Cordão Umbilical expandidas para tratamento de Leucemia.

1. Colleen Delaney, Shelly Heimfeld, Carolyn Brashem-Stein, Howard Voorhies, Ronald L Manger & Irwin D Bernstein. Notch-mediated expansion of human cord blood progenitor cells capable of rapid myeloid reconstitution. Nature Medicine, published online 17 January 2010.


Pesquisadores do Fred Hutchinson Cancer Research Center desenvolveram um sistema de cultura para células-tronco do sangue de cordão umbilical, usando uma estratégia de expansão em laboratório, a qual aumenta a eficácia da reconstituição da medula óssea.


O estudo demonstrou rápida reconstituição hematopoética em modelos animais e em estudos clínicos de fase 1 com pacientes tratados com quimioterapia.


Segundo os especialistas, a estratégia pode levar a resultados clínicos que permitirão reduzir a morbidade e mortalidade nessas doenças.


Em estudo publicado na revista Nature Medicine, Colleen Delaney e seus colegas do Fred Hutchinson Cancer Research Center descrevem uma técnica que permite a expansão in vitro, em larga escala, das células-tronco obtidas do sangue de cordão umbilical, que foram depois infundidas em pacientes com leucemia e resultaram em uma bem sucedida e rápida recuperação medular.


O número limitado de células-tronco no sangue de cordão umbilical tem sido uma das razões para que o transplante do sangue de cordão umbilical leve à uma recuperação da medula óssea mais lenta e tenha uso mais restrito em adultos, devido ao maior peso. Quanto mais longa a recuperação da medula óssea, maior o risco de que os pacientes, que estão com o sistema imune comprometido, adquiram infecções oportunistas.


De acordo com a Dra. Delaney, a importância desse estudo está no fato de que a expansão das células-tronco do sangue de cordão umbilical pode ser feita sem que aconteça a diferenciação das células – elas são expandidas, mas continuam com as características de células-tronco, sem se diferenciarem. Quando infundidas nos pacientes, essas células rapidamente dão origem a leucócitos e outros componentes do sistema sanguíneo.


A expansão das células foi possível com o uso de uma proteína capaz de ativar a proliferação das células-tronco, sem diferenciação. Esta técnica foi desenvolvida pelo Dr. I. Bernstein, do mesmo Instituto de pesquisa e publicada em 2000. Uma década de pesquisa levou à bem sucedida passagem do laboratório para a clínica.


O método foi capaz de aumentar 164 vezes o número de células CD 34+, uma célula-tronco multipotente que dá origem a todas as células do sangue e que está presente no sangue de cordão umbilical.


O estudo descreve ainda o resultado da infusão dessas células em 10 pacientes que receberam duas unidades de sangue de cordão para tratar leucemias agudas de alto risco. Cada paciente recebeu uma unidade de células-tronco não manipulada e uma unidade de células-tronco expandida em laboratório. Os pesquisadores avaliaram a segurança da infusão das células expandidas, assim como o tempo de reconstituição do sistema sanguíneo, o tempo de duração do transplante e quais as células-tronco que contribuíram mais para a reconstituição.


Os resultados mostraram que as células expandidas diminuíram o tempo de reconstituição em uma semana. Sete dos 10 pacientes estão vivos, sem evidência da doença e sem reação de rejeição das células infundidas.

Células de sangue de cordão umbilical reprogramadas para expressar pluripotência

Pesquisas recentes mostram que as células somáticas podem ser reprogramadas para o estado de pluripotência – característico das células-tronco embrionárias. A maioria dos trabalhos publicados usa os fibroblastos de pele ou outros tipos celulares que exigem uma intervenção cirúrgica para sua obtenção. Para a aplicação clínica em terapias futuras é desejável que as células a serem reprogramadas possam estar disponíveis e ser coletadas sem procedimentos invasivos.
No último número da revista Cell Stem Cell dois grupos independentes demonstraram que o sangue de cordão umbilical é uma fonte disponível de células somáticas que podem ser reprogramadas para expressar pluripotência.

Belmonte e col.1 Obtiveram células pluripotentes a partir de células de sangue de cordão umbilical criopreservadas por mais de cinco anos, com maior eficiência e com menor número de fatores indutores de diferenciação do que aqueles obtidos a partir de fibroblastos. Este experimento mostrou que a criopreservação das células não foi capaz de alterar sua capacidade de diferenciação.

O grupo de Martin e col.2, por outro lado, reprogramou células oriundas do sangue de cordão umbilical que passaram a expressar pluripotência e, posteriormente, foram diferenciadas em células musculares cardíacas funcionais, além de outros tipos celulares.

As células de SCU podem se tornar a fonte preferencial de material para terapias futuras mediadas por células-tronco pluripotentes induzidas uma vez que elas são mais jovens e acumulam menos mutações do que aquelas isoladas de adultos.


Referências Bibliográficas


1 - http://www.cell.com/cell-stem-cell/fulltext/S1934-5909(09)00453-6


2 - http://www.cell.com/cell-stem-cell/fulltext/S1934-5909(09)00445-7

Cryopraxis investe em pesquisas com Células-Tronco no tratamento de doenças neurodegenerativas

A Cryopraxis, por meio de sua divisão de Terapia Celular – a CellPraxis - tem investido em pesquisas pré-clínicas e clínicas das doenças do envelhecimento, particularmente as doenças cardíacas (revista Cryopraxis, nº04) e neurológicas. Os resultados dessas pesquisas foram traduzidos em três artigos científicos, publicados nesse ano, que representam os passos iniciais para a transposição da pesquisa experimental em aplicação como terapia corrente.


As duas maiores linhas que investigam os mecanismos da terapia celular nas doenças neurodegenerativas tem discutido se as células-tronco transplantadas repõem as células danificadas do hospedeiro ou se elas servem como um agente de liberação de fatores capazes de ativar as células do próprio indivíduo a se diferenciarem.


A terapia celular para o tratamento das desordens neurológicas tem obtido considerável progresso em experimentos pré-clínicos e clínicos. A análise desse progresso foi tratada em dois trabalhos de revisão publicados recentemente. No primeiro deles1 é feita uma revisão do 15º Encontro Anual da Sociedade Americana para a Terapia e Reparo Neural (The annual meeting of the American Society for Neural Therapy and Repair -ASNTR) de 2008. Nesse encontro foram discutidos os últimos resultados das pesquisas para as doenças neurodegenerativas, cobrindo tópicos que vão desde as pesquisas básicas aos mecanismos das doenças como Doença de Parkinson, Alzheimer e Acidente Vascular Cerebral, incluindo estudos de uso das células-tronco de diferentes fontes nos transplantes e as condições necessárias para maximizar a eficácia das células-tronco endógenas (células-tronco neuronais) e exógenas (células-tronco de medula óssea, sangue de cordão umbilical e células-tronco embrionárias). Foram discutidas também as técnicas para isolamento, purificação, diferenciação e migração dessas células. Outros estudos foram focados em métodos avançados de aplicação de células e fatores específicos por meio da engenharia tecidual ou manipulação celular por injeção simples.


Em trabalho publicado recentemente2 foi possível demonstrar que a injeção de agentes que aumentavam a permeabilidade da barreira hemato-encefálica (manitol) facilitavam a chegada dos fatores liberados pelas células-tronco de sangue de cordão umbilical humano, por meio de injeção intravenosa, em animais recém-nascidos com hipóxia cerebral. A associação do manitol com a infusão das células-tronco de sangue de cordão umbilical apresentou uma melhora de 40% na recuperação motora desses animais.


O uso potencial de diferentes células ou tecidos para transplante na Doença de Parkinson está sob intensa investigação. Os resultados de estudos em animais demonstraram que o transplante de células progenitoras neuronais exógenas (NPCs) pode estimular a proliferação das células neuronais endógenas (locais), levando-as a proliferação, migração e diferenciação associado a proteção das áreas lesionadas. Outros transplantes com células de origem neural no sítio da lesão foram capazes de restaurar a função de neurônios em primatas e o uso de células-tronco de sangue de cordão umbilical humano aplicado a roedores com Doença de Parkinson apresentou resultados animadores.


O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das doenças mais estudadas, sendo a terceira maior causa de morte, atrás apenas das doenças cardíacas e alguns tipos de câncer. No 15º Encontro Anual da Sociedade Americana para a Terapia e Reparo Neural um grande número de pesquisadores apresentou seus resultados com terapia celular. Animais com AVC submetidos ao implante de células-tronco mesenquimais de medula óssea induzidas a se diferenciar em células neuronais, apresentaram melhora das funções neurológicas, sendo que estas células se mantiveram no local da injeção três meses após o transplante. Outro grupo de pesquisas mostrou que células-tronco de medula óssea humana eram capazes de proteger as células neuronais, diminuindo a morte celular por meio da liberação de fatores específicos. A dose celular capaz de melhorar as funções neurológicas em ratos com AVC foi determinada, enquanto a fração de células monocíticas parece ser crítica para a recuperação das funções quando a fonte de células-tronco utilizada foi o sangue de cordão umbilical humano. Essas células demonstraram ser capazes de recrutar e favorecer a diferenciação das células precursoras dos neurônios no sítio da lesão. Os resultados iniciais de um estudo clínico de Fase I em pacientes com AVC crônico submetidos à infusão de células-tronco autólogas mostraram uma melhora considerável no déficit neurológico.


O segundo trabalho de revisão3 mostra os avanços das terapias com células-tronco de diferentes fontes nas doenças neurodegenerativas e discute a importância de elucidar os mecanismos de migração após o transplante das células e sua fixação e funcionamento no sítio da lesão. O trabalho aponta ainda a importância do estabelecimento de normas regulatórias para o uso dessas terapias de tal forma que elas sejam seguras, reprodutíveis e eficientes. Mostra que, ainda que as pesquisas para esclarecer essas questões estejam em andamento, um acúmulo de evidências aponta o papel crítico das células-tronco na modulação da reação inflamatória.


1. .Park DH, Eve DJ, Borlongan CV, Klasko SK, Cruz E, Sanberg P.R . From the basics to application of cell therapy, a steppingstone to the conquest of neurodegeneration: a meeting report.2009 Med Sci Monit. 15(2):RA23-31.
2. Yasuhara T, Hara K, Maki M, Xu L, Yu G, Ali MM, Masuda T, Yu SJ, Bae EK, Hayashi T, Matsukawa N, Kaneko Y, Kuzmin-Nichols N, Ellovitch S, Cruz E., Klasko SK, Sanberg CD, Sanberg PR, Borlongan CV. Mannitol facilitates neurotrophic factor upregulation and behavioral recovery in neonatal hypoxic-ischemic rats with human umbilical cord blood grafts. : J Cell Mol Med. 2009 Feb 4.
3. Dong-Hyuk Park, David J. Eve, James Musso III, Stephen K. Klasko, Eduardo Cruz, Cesario V. Borlongan, Paul R. Sanberg. Inflammation and Stem Cell Migration to the Injured Brain in Higher Organisms. Stem Cells and Development. 2009 Jun;18(5):693-702.

Tratamento de lesão raquimedular: estudo clínico piloto

Terça-feira, 26 de Janeiro de 2010


USO DE CÉLULAS MESENQUIMAIS ESTROMAIS AUTÓLOGAS DE MÉDULA ÓSSEA, EXPANDIDAS EX VIVO, NO TRATAMENTO DE LESÃO RAQUIMEDULAR: ESTUDO CLÍNICO PILOTO


Nos últimos anos, o tratamento da lesão raquimedular com células-tronco autólogas tem trazido esperanças a essa condição médica para a qual não há tratamento convencional. Estudos pré-clínicos feitos pelo mesmo grupo mostraram que a infusão de células-tronco mesenquimais obtidas da medula óssea em animais apresentava resultados encorajadores. Com base nesses resultados foi feito um estudo piloto para verificar a segurança e eficácia do método.


Trinta pacientes que apresentavam lesão raquimedular aguda (até 6 meses após a lesão) e subaguda (acima de 6 meses após a lesão) foram submetidos ao implante de células-tronco mesenquimais autólogas obtidas de medula óssea. As células-tronco da medula óssea foram coletadas por punção da crista ilíaca e as células mesenquimais isoladas, caracterizadas e expandidas em laboratório. Após testadas pelo controle de qualidade, uma dose de 1 milhão de células mesenquimais/Kg de peso corporal foram injetadas via punção lombar.


O acompanhamento foi feito durante 3, 2 e 1 ano após o transplante de células-tronco mesenquimais. Nenhum dos pacientes reportou eventos adversos.


Os resultados indicaram que o procedimento é seguro. O número de pacientes recrutados não permitiu aos pesquisadores a análise da eficácia. Segundo eles, entretanto, os resultados obtidos recomendam estudos clínicos posteriores com doses mais altas de células e diferentes vias de administração de tal forma que seja possível determinar a eficácia do método.


Ex vivo-expanded autologous bone marrow-derived mesenchymal stromal cells in human spinal cord injury / paraplegia: a pilot clinical study
Rakhi Pal 1*, Neelam K. Venkataramana 2*, Abhilash Bansal 3, Sudheer Balaraju 1, Majahar Jan 1, Ravi Chandra 3, Ashish Dixit 3, Amit Rauthan 3, Uday Murgod 3 and Satish Totey Cytotherapy, 11(7): 897-911. 2009.